sábado, 3 de novembro de 2007

Escapando em nome de Marx

Ela é uma pedagoga marxista, trabalha em uma faculdade, um antro de sabedoria. Mas antes trabalhava em um banco, um antro de capital. Já tem mais de 40, cabelos cor de amora. Usa óculos grandes e pesados, pendurados em uma face com fortes traços negros.

Um tanto atrapalhada, não renovou a validade dos documentos de seu carro nem de sua habilitação, e assim conduzia pela cidade "sem mais aquela", a lá Chico Buarque. Até que um belo dia, dirigindo de volta para casa depois de um contestador dia de trabalho e investigações políticas - já rotineiras para ela -, se deparou com uma inescapável blitz, não a banda, uma barreira policial mesmo, instalada temporária e surpreendentemente na rua em que ela sempre passava.

O policial que a parou pediu que ela mostrasse seus documentos e os do carro. Ela pegou-os, devagar, meio vacilante, e entregou-os ao fardado. Ele examinou os papeizinhos (papelzinhos?) coloridos, se afastou, falou com um colega, voltou ao carro e disse a ela:


-- Minha senhora, saia do carro por favor, temos que conversar.


Meia hora depois, estavam todos os policias que trabalhavam na barreira daquele dia sentados no meio-fio, com os braços cruzados por cima de seus joelhos, olhando para ela, atentos, surpresos, e um tanto confusos com o que ela, de pé, no meio da rua, falava em alto e bom som, com sua voz rouca de fumante veterana.

Ela os ensinava o marxismo, a luta de classes, o veneno do neoliberalismo, o ódio aos Estados Unidos da América, a exploração na qual estavam submetidos, a alienação que dominava suas mentes até aquele momento.

Ela falou muito, respondeu a todas as perguntas de seus interlocutores, fumou, pediu café alguma vezes e se foi.

Chegou em casa sem ter multa alguma para pagar.

Um comentário:

Thiago Augusto" disse...

Nossa Marcellus, não acredito que a D. Denubes escapou dessa 'em nome de Marx' assahushuaahuas
Sérião mesmo?

Raxei aqui :D