domingo, 27 de abril de 2008

Mais um plágio

Queremos saber
Gilberto Gil

Queremos saber
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes, dos sertões

Queremos saber
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos de fato um relato
Retrato mais sério
Do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente e sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do Senhor

Queremos saber
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário
Prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer

Queremos saber
Queremos saber
Todos queremos saber

Palavras minhas:

Essa música, porta-voz do mistério de ser esse ser social que somos nós, foi composta pelo Gil em 1976. Tem um tempinho já, mas essa é daquelas músicas eternas que, além de serem eternas, quando ouvimos, pensamos: "- Gostaria de ter feito essa música".
Infelizmente não é qualquer um que nasce genial como o Gil.
Falando em Gil, ele veio aqui em casa hoje, mas eu tinha muita coisa pra estudar, então ele ficou pouco tempo e foi embora.
Você também pode encontrar "Queremos saber" na voz da Cássia, a Eller. Quando ela foi gravar essa música, me ligou. Dei umas dicas pra ela, e a interpretação ficou do balacobaco.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Saudade

E é sempre assim.
Vou pra casa, fico com a família. Conversamos muito, nos atualisamos, matamos a saudade, rimos, brigamos, comemos...
Quando volto, me sinto melhor, uma espécie de renovação. Eles são importantes pra mim. Muito. Sempre.
Então, quando me pego pensando, estou pensando em minha irmã, Jéssica.




Baixinha, brava, sem educação, preguiçosa, carinhosa. Toca violão como ninguém. Na verdade ela ainda está aprendendo, mas dentro de mim, o som que ela faz - com aquelas mãozinhas pequenas, dedos de unhas roídas -, é o melhor que já ouvi.

Ela ainda não sabe o que vai ser quando crescer, mas será. Sei.

Enfim, estas palavras de agora são apenas uma pífia homenagem àquela que me faz pensar na vida, antes de o sono chegar.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Cotidiano

Durante a semana temos:

Despertador
Banho
Roupa
Ônibus
Elevador
Café
Trabalho
Café
Trabalho
Café
Elevador
Ônibus
Faculdade
Café
Aula
Café
Aula
Ônibus
Casa
Comida
Banho
Cama
Despertador...

Nos fins de semana é possível encontrar também:

Fotografia
Livro, ou mais de um
Chinelo
Café
Amigos. Não que eles não estejam durante a semana, mas é difícil encontrá-los, mesmo morando com alguns deles
Periódicos (jornais, revistas)
Discussões a respeito de nossa fatídica condição humana
Cerveja
Espanhol
Música. Da boa
Pequenas crises de curta duração, inerentes aos homens
Boteco, ou mais de um
Tempo pra sentir saudade
Café

Desta vez, a ilustração fica a cargo da primeira parte da música "Construção", composta em 1971 pelo meu verdadeiro pai - como já disse Cássia Eller -, Chico Buarque:

"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"

Absurdamente pertinente.

P.S.: "Cotidiano", também do Chico, seria uma boa opção, mas no momento não conto com ninguém que toda noite me diga pra eu não me afastar, que à meia-noite me jure eterno amor, que me aperte pra eu quase sufocar, que me morda com a boca de pavor.