terça-feira, 30 de outubro de 2007

Dúvidas Recorrentes

Eu não gosto do anonimato, mas não quero ir pro Big Brother.
Queria ser imortalizado, não imortal. Ser conhecido em vida e no pós-mortem por alguma (ou algumas) coisa boa que fiz pela humanidade me motiva a continuar, a querer fazer do mundo, pelo menos o mundo ao meu redor, um lugar melhor pra todo mundo.

Seria isso uma espécie de Paraíso, no qual não acredito.

O fato de existir sem ter pedido tal coisa e de não saber quando e como acabarei me incomoda muito. É como disse a um amigo recentemente, gostaria de viver o quanto eu achasse necessário. Decidir o momento de morrer seria confortável. Mas não queria viver o pouco tempo que vivemos geralmente.

Não sei porque temos que existir nesse mistério que é o mundo, o universo, a morte. Quem sabe o que existe depois do universo? Quem tem certeza de que existimos? Quem pode afirmar qualquer coisa?

Uma vez, em um filme, um cara disse que em algumas galáxias o intelecto humano é tão inferior que é considerado uma doença infecto-contagiosa!

Quando penso que um dia acabarei, simplesmente deixarei de existir, me sufoca, me desespera, mas eu me acostumo com isso.

Às vezes gostaria que qualquer entidade metafísica, divina e suprema, se materializasse na minha frente, mas tenho medo, apesar de desacreditar nelas. São medos inconscientes, mas que me fazem duvidar se estamos realmente sozinhos por aqui. Acredito que sim, acredito que não, não sei no que acreditar. Acreditar em mim não é muito bom. Pelo menos eu acredito que não minto pra mim.


Desabafos assim, como esse que acabo de fazer, me parecem ridículos.

A Musa Sem Nome

Então eu já estava cheio de tanto esperar.
Foi quando ela apareceu, rápida, avassaladora, com a voz rouca de fumante, e essa era mesmo.

Perguntou sobre o ônibus, olhando nos meus olhos. Respondi que demoraria. Ela se sentou ao meu lado, meio distante, meio próxima. Tinha longos cabelos castanhos, braços finos, pernas bronzeadas, olhos muito fundos de cansaço, e muito maquiados.


Fitei-a por um instante.
Perguntou se eu voltava do trabalho, disse que era da faculdade.

Perguntou se era Administração, disse que era Jornalismo.
Perguntou se eu trabalhava, disse que não.


Então ela começou a falar de si, acendendo e fumando apressadamante um relaxante cigarro. Disse que voltava do trabalho, já passava das 23 horas e ela começara a trabalhar às 7 da manhã, estava mesmo cansada. Cursava terceiro ano. Estava de partida breve para Teresina, Piauí, animada, mas nem tanto.

Era meio desajeitada, desesperada.


Quase no fim de seu cigarro, ela o ofereceu a mim. Aceitei. Fumei. Não poderia perder a chance de entrar, mesmo que tão miseravelmente, em seu mundo, passageiro para mim, meu mundo passageiro para ela.


Ficamos aí mais algum tempo, ela se decidiu por pegar outro ônibus, então se levantou, me desejou uma boa noite, quase sem perceber.
Se foi e levou com ela o nome que nunca mais terei a chance de perguntar.
Se foi como todos se vão, enquanto se cruzam.


Algum tempo depois me fui também. Cruzando com outros.

sábado, 27 de outubro de 2007

Outras Musas


Todos os dias da semana eu as encontro, sempre na mesma sala de aula, no mesmo laboratório de redação. Às vezes irritadas, como toda mulher, outras vezes gentis, como toda mulher, mas sempre graciosas da maneira de cada uma, como toda mulher.

Poliana é sempre muito séria, espírito corporativista. Temente a Deus, diz ter com Ele uma relação íntima. É elegante à sua maneira. Nunca usa decotes ou roupas mais voluptuosas. Direta e marcante, tem uma voz de seda. Já deu vida à Pollyanna no teatro, é atriz também. Multi talentos.

Letícia conheço pouco. Dona de longas madeixas escuras, tem o ar das autoritárias e a voz das boas fumantes, apesar de não fumar.

Bárbara é ruiva, artificialmente, mas isso não importa. Tem uma voz doce, conversa amigável. Discreta e observadora. Algumas vezes parece cansaça, com vontade de deixar tudo pra trás. Sempre gentil.

Arieny tem a meiguice das bonecas de porcelana que quase nunca encontro. Se veste e se porta como uma delas. É gentil e engraçada a sua maneira. Tem sempre uma imagem bem zelada.

Ingred anda a passos largos, rápidos e precisos, fazendo soar por onde ela passa o barulho do impacto de seus saltos altos com o chão, que só pode mesmo assistí-la passear por ele sem nunca olhá-lo, pois ela tem os olhos sempre postos à frente, ligeiramente para cima. Esses mesmo olhos altivos também se encolhem para rapidamente fitar os objetos de sua crítica observação. Fala alto, como aquelas que fazem questão de se impor.

Jordana é inconvenientemente engraçada, porém nunca coletivamente. Faz charme com freqüência. Gosta de rir e o faz com muito prazer. Conversa fácil e agradavelmente. Nunca me meu uma carona pra casa.

Sara é curta, apesar de ter boa estatura. Crítica e severa, nunca deixa passar uma boa oportunidade de fazer um comentário mais ácido. Não gosta muito opulência, prefere as coisas mais sinceramente simples.

Denise tem as melenas mais suaves do recinto. É gentil também. Preversa a cintura, por isso não abusa das calças de cintura baixa. Fala pouco, apenas o necessário. também não ri tanto quanto poderia. É discreta, e bela por isso.

Alinny é a proprietária de uma gargalhada que se faz ouvir de longe e de compridos cachos loiros que ela insiste em deixar presos, privando os olhos alheios de admirarem uma paisagem escondida, por não querer assumir a beleza que ainda não descobriu: a própria. Dirige lindamente, como quem está sempre muito atarefado.

Thaísa tem aroma de paz. Fala pouco e baixo, o suficiente para ser ouvida. É sem dúvida uma agradável companhia em qualquer tipo de mesa. Muitas vezes veste peças simples, tranqüilas, confortáveis e por isso sinceras.

Edlaine ri muito facilmente, basta olhá-lá. É atenciosa com as pessoas e amigável. Tem ar de melindrosa, mas não o é, mas sim muito solícita e prestativa.

Aline é a pequena notável delas. Sempre muito educada e cuidadosa, mistura muito de mulher e muito de criança, o que dá a ela um carisma estonteante. Fala em umas como mulher, competente, severa e intimidadora, e em outras como uma menina, que quer apenas que você diga a ela onde está escondido o pote de doces.

Enfim a minha preferida, Suindara, a instável e misteriosa coruja de mal agoro. Uma mulher de um charme próprio daquelas que frequentam casinos e cabarés. Tem as mais belas pernas desse condado, e sabe usá-las muito bem. É recatada, nunca fala um bom palavrão. É branca, como as inimigas do sol, como as vampiras amantes de Drácula. Alta, bem educada e impessoal, é a mais européia de todas as brasileiras que conheço.

São essas algumas das personagens de um pedaço da história de minha vida, que escrevo com a ajuda delas, mesmo que elas não saibam disso.

São mulheres, e merecem todo o meu respeito e admiração, por serem assim, tão belas, encantadoras, fortes, mulheres.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Fim do Plágio


A postagem "Musa de Mim" marca o fim da breve sessão de publicações que eu, o autor, vinha fazendo de Ensaios que não foram Registrados por mim, as letras de músicas que não compus.

Voltarei a publicar outras letras musicais particularmente importantes novamente em outros momentos. Por enquanto é o que temos.

Boa noite.

Musa de Mim


A vida não é mesmo mágica?




Hoje estava dentro do ônibus, voltando da faculdade, quando de repende se senta ao meu lado uma bela mulher, dona de olhos muito verdes, com os braços e outras partes do corpo totalmente tatuados. Eram tatuagens lindas, flores, tribais, estrelas, anjos, enfim, um ornato ambulante estava ali, do meu lado. Um tanto surpreso e encantado, voltei a ler o livro que tinha em mãos, porém já sem a mesma concentração de antes.






O trajeto seguiu sem interrupções por alguns minutos, até que nosso ônibus - meu, da bela tatuada, e de outros anonimos - passa em frente a um ponto de prostituição de travestis, quando a minha mais nova musa, vendo um travesti vestido minimamente, faz o seguinte comentário:






-- Podia ficar pelada logo de uma vez!






Achei um tanto engraçado o comentário de meu mais novo amor platônico.



Foi quando ela, bela e arisca, faz outro comentário, destruindo em mim com a mesma rapidez que fez nascer a ardente e louca paixão:






--Como é que tem gente que pode gostar de sair com uns trem desse jeito?!






Meu mundo caiu. Estava triturado. Não havia mais razão para viver. Respirar era como perfurar meu próprio coração.



Fiquei sem entender.






A minha musa, com tanta atitude - evidente em seus desenhos corporais, sua vaidade alternativa, suas roupas incomuns, seu cabelo imponente -, representa uma minoria social, assim como aquele travesti. Mas minha deusa não pensava assim. Com todo preconceito e juízo de valor, julgou e desmereceu aquele homem travestido de mulher que estava parado na calçada, esperando um novo e seco amor, fazendo seu trabalho.






Então o ponto de minha querida se fez chegar. Ela se levantou do assento ao meu lado, se virou, eu acompanhei-a com meu encantado e agora magoado olhar, até que ela se foi, para nunca mais voltar e se sentar ao meu lado, e me fazer a mais doce e incompreensível compainha nessas viagens longas e barulhentas pela cidade escura e fria, fria até mesmo quando faz calor.

domingo, 21 de outubro de 2007

Plágio 3


The Beatles - Lucy In The Sky With Diamonds
(John Lennon)




Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly
A girl with kaleidoscope eyes


Cellophane flowers of yellow and green
Towering over your head
Look for the girl with the sun in her eyes
And she´s gone


Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds


Follow her down to a bridge by a fountain
Where rocking horse people eat marshmallow pies
Everyone smiles as you drift past the flowers
That grow so incredibly high


Newspaper taxis appear on the shore
Waiting to take you away
Climb in the back with your head in the clouds
And you´re gone


Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds


Picture yourself on a train in a station
With plasticine porters with looking glass ties
Suddenly someone is there at the turnstile
The girl with kaleidoscope eyes


Lucy in the sky with diamonds...



Palavras minhas:

Essa música, composta em 1967, faz parte do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que é o oitavo dos meninos de Liverpool, lançado no mesmo ano. É uma música mágica, que tem uma letra também mágica, alucinante, no sentido mais entorpecente da palavra. Toda vez que escuto, tenho vontade de fumar.

The Beatles é uma banda muito famosa, popular. Venderam, fizeram, aconteceram, mas não é por isso que gosto deles, gosto deles porque são envolventes, inovadores. O sucesso foi conseqüência.

São outros que não saem lá de casa. Meus amigos íntimos, vivemos tomando uísque com Coca-cola, fumando e falando da vida alheia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Plágio 2


Rita Lee - Esse tal de Roque Enrow
(Rita Lee - Paulo Coelho)

Ela nem vem mais pra casa, doutor
Ela odeia meus vestidos,
Minha filha é um caso sério, doutor
Ela agora está vivendo
Com esse tal de... Roque Enrow
Roque Enrow, Roque En...

Ela não fala comigo, doutor
Quando ele está por perto
É um menino tão sabido, doutor
Ele quer modificar o mundo
Esse tal de Roque Enrow
Roque Enrow

Roquem é ele? Quem é ele?
Esse tal de Roque Enrow?
Uma mosca, um mistério,
Uma moda que passou
E ele, quem é ele?
Isso ninguém nunca falou!

Ela não quer ser tratada, doutor
E não pensa no futuro
E minha filha está solteira, doutor
Ela agora está lá na sala
Com esse tal de Roque Enrow
Roque Enrow, Roque En...

Eu procuro estar por dentro, doutor
Dessa nova geração
Mas minha filha não me leva à sério, doutor
Ela fica cheia de mistério
Com esse tal de Roque Enrow
Roque Enrow

Roquem é ele? Quem é ele?
Esse tal de Roque Enrow?
Um planeta, um deserto,
Uma bomba que estourou
Ele, quem é ele?
Isso ninguém nunca falou!

Ela dança o dia inteiro, doutor
E só estuda pra passar
E já fuma com essa idade, doutor
Desconfio que não há mais cura
Pra esse tal de Roque Enrow
Roque Enrow, Roque Enrow
Roque En...row

Palavras minhas:

A Rita é o máximo. Não consigo entender como pode existir uma mulher com tanta atitude e sacadas tão boas como as dessa magrela. O rock e a Rita são uma coisa só.

Gosto muito dessa música, composta em 1975 pela Ritinha, minha amiga íntima, e pelo Paulo Coelho. Dele eu não gosto muito não, mas a gente tem que abrir mão de algumas coisas pelos amigos, por isso eu suporto ele, por causa da Rita.

Essa música reflete bem o que penso sobre o Rock: é mágico, contraventor, inovador, revolucionário, uma forma de ver o mundo, não apenas bandinhas da MTV e munhequeiras de couro cheias de pontas metalizadas, coturnos de couro e roupas pretas, o Rock vai muito além disso, é uma forma de encarar a sociedade, uma forma de protesto sobre o que há de injusto e podre nesse mundinho banalizado e coisificado.

Você encontra a gravação original dessa música no álbum Rita Lee - Fruto Proibido, de 1975. Dá pra encontrar em CD, pois fizeram uma adaptação muito boa. Mas lembrando que em 1975 esse disco saiu em LP. Não, o CD não existe desde os primordios da humanidade.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Plágio 1



Secos E Molhados - Rosa de Hiroshima
(Vinícius de Morais)

Pense nas crianças mudas telepáticas
Pense nas meninas cegas inexatas
Pense nas mulheres, rotas alteradas
Pense nas feridas como rosas cálida
Mas Só não se esqueça da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária
A rosa radiotiva, estúpida inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada
Palavras minhas:
Essa música foi feita pelo Vinicim, meu amigo íntimo, e pelo Gerson Conrad, que também era integrante do Secos e Molhados. É uma música que trata do tema da bomba de Hiroshima, como é fácil perceber. Composição brilhante. A interpretação, também brilhante, fica por conta da voz fascinante e penetrante (no sentido mais respeitoso da palavra) de um outro amigo meu, Ney Matogrosso.
Esse pessoal não sai daqui de casa. O único inconveniente é que tenho que comprar muito mais cigarros sempre que eles aparecem (dando margem ao estereótipo dos artistas brilhantes ligados mais que imediatamente ao uso de tabaco, álcool e adjacências alucinóticas). Enfim, a música é excelente.

Justificativa de Plágio


Bom, por falta de inspiração e argumento suficiente no momento, publicarei neste meu espaço, algumas letras de músicas que fazem muito sentido pra mim.

São letras que falam por mim. Aquelas que eu gostaria de ter escrito, mas escreveram na minha frente!

São essas letras, musicadas, que fazem parte do meu universo de significados, são essas letras que sei cantar, que canto com toda voz, desafinada.

São essas letras que me trazem para aquilo que penso acreditar. São essas letras que admiro. São essas letras que transitem as mensagens que penso serem úteis para melhorar o mundo, para trazerem algum tipo de reflexão à quem as ouça.

Apenas isso. Postarei uma música por vez, ou não.