terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Musa Sem Nome

Então eu já estava cheio de tanto esperar.
Foi quando ela apareceu, rápida, avassaladora, com a voz rouca de fumante, e essa era mesmo.

Perguntou sobre o ônibus, olhando nos meus olhos. Respondi que demoraria. Ela se sentou ao meu lado, meio distante, meio próxima. Tinha longos cabelos castanhos, braços finos, pernas bronzeadas, olhos muito fundos de cansaço, e muito maquiados.


Fitei-a por um instante.
Perguntou se eu voltava do trabalho, disse que era da faculdade.

Perguntou se era Administração, disse que era Jornalismo.
Perguntou se eu trabalhava, disse que não.


Então ela começou a falar de si, acendendo e fumando apressadamante um relaxante cigarro. Disse que voltava do trabalho, já passava das 23 horas e ela começara a trabalhar às 7 da manhã, estava mesmo cansada. Cursava terceiro ano. Estava de partida breve para Teresina, Piauí, animada, mas nem tanto.

Era meio desajeitada, desesperada.


Quase no fim de seu cigarro, ela o ofereceu a mim. Aceitei. Fumei. Não poderia perder a chance de entrar, mesmo que tão miseravelmente, em seu mundo, passageiro para mim, meu mundo passageiro para ela.


Ficamos aí mais algum tempo, ela se decidiu por pegar outro ônibus, então se levantou, me desejou uma boa noite, quase sem perceber.
Se foi e levou com ela o nome que nunca mais terei a chance de perguntar.
Se foi como todos se vão, enquanto se cruzam.


Algum tempo depois me fui também. Cruzando com outros.

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